segunda-feira, 10 de setembro de 2007

o corpo - cristianismo como maternidade, sensualidade e piedade

Na história do mundo o corpo sempre foi um dos temas mais fascinantes da apreciação humana. Um exemplo está na história de Cristo, mas o curioso é que o cristianismo fará do corpo um paradoxo. Pois se tem uma narrativa densa onde o corpo tem fundamental importância (Cristo fará do seu corpo símbolo para memorização de sua história). Para Cristo sua concretização num corpo resultava do cumprimento da profecia, seu martírio e dor resultavam do sacrifício por um povo e sua ressurreição era resultado da vitória de sua missão e sua transladação resultava no renovo e esperança de um povo que sempre aguardou ansiosamente por uma nova sociedade vivendo também num novo espaço. Tornou-se um paradoxo porque se desenvolveu um discurso contra o corpo, a ponto de quase negá-lo. O corpo tornou-se um território de batalhas homéricas entre as tentações do diabo e separação recatada para garantia de salvação. É bem provável que esse recato do corpo não venha da cultura semita, visto que a fertilidade era conseqüência de benção. O certo é que devido o patriarcalismo dos povos vigente na época de Cristo, o corpo do homem foi privilegiado no ocidente. Mas silenciosamente o corpo feminino mostrou sua força. Durante os primeiros séculos, com a conversão de muitos judeus ao cristianismo, era lembrado os textos folclóricos e de costumes do povo hebreu como o Talmude, Zohar e Hadesch, onde se apresenta uma personagem por nome Lilith , a primeira companheira de Adão, que, no entanto, não quis se submeter numa relação em que o homem era superior, Lilith foge e se une a leviatã, ou Samael (Is. XVII, 1) as relações sexuais dessas duas entidades gerarão espíritos malignos, que vagarão durante a noite. Para os judeus cristãos era muito importante que se desse destaque a uma mulher livre da mácula mitológica judaica do sexo (A virgindade de Maria pode ter tido ênfase no ocidente conforme esses textos rabínicos.). Entre os leitores mais influentes dos 4 evangelhos (Mateus, Marco, Lucas e João) temos Paulo de Tarso (003 066) um dos mais privilegiados pois tem suas reflexões e recomendações, principalmente suas epístolas publicada no bojo dos textos selecionados para a 2ª parte da Bíblia, o Novo Testamento. Paulo recomendará que se fosse possível o homem (ou a mulher) evitassem o casamento. São Jerônimo de Strídon (340 420), o tradutor da Bíblia para a Vulgata Latina, deixa reflexões teológicas sobre a virgindade como pureza, fala do casamento e filhos como martírios. Santo Agostinho (354 430) se destaca entre os escolásticos, e como Tomás de Aquino se inspira na filosofia de Aristóteles, Agostinho é Considerado o maior vulto da filosofia metafísica cristã, relaciona a sensualidade ao pecado original (em sua obra magma Cidade de Deus).A Bíblia menciona seis Marias no Novo Testamento, das quais três são de interesse para os pesquisadores, sobretudo da história da sexualidade. O Papa Gregório I, O Grande, no século VI expressou que as Marias poderiam ser uma complexidade de se pensar a mulher no contexto social da época (Dicionário da Vida Sexual p 347). Poderia se dizer que essa mulher trina figure aspectos complexos de um povo (grego e latino) que vivencia uma confluência de várias matrizes culturais. Três imagens tornam-se muito freqüente num inconsciente ocidental: a imagem materna com suas suculentas mamas a esparramar o leite no caminho do ser humano, a via-láctea. Para os gregos a deusa-mãe Deméter, a importante canção da fecundidade e prosperidade, atos significativos principalmente para aldeões que viviam da lavoura. As religiões do mundo têm talvez, explicado como produto do que Jung chamou de inconsciente coletivo a tendência de reverenciar a fêmea, uma deusa-mãe associada quase sempre ao sol, à lua e a terra, isso tudo porque esses elementos são fundamentais para a agricultura e vegetação. A Maria Mãe: a noiva de José que se permite cumprir em si a profecia da encarnação da palavra (verbo). E gerar um ser humano prescindindo de duas ações naturais: a relação sexual e o rompimento do hímem (Mateus 1: 29 25). Segue-se especulações se depois Maria teve uma vida normal ou não, o certo é que a Igreja ao longo dos séculos foi instituindo dogmas: A Maria Madalena Vênus: (Madalena por morar em Madala, ou Magdala, lugares de localização incerta) Ela é figurada como a prostituta arrependida que ungiu os pés de Cristo na casa do fariseu (Lucas 7: 36 - 50). Ela esteve presente no martírio do corpo de Crito, juntamente com Maria Mãe, e outras mulheres. (Mateus 27:56; Marcos 15:40; Lucas 23:49; João 19.25) e no funeral. (Mateus 27:61; Marcos 15.47; Lucas 23:55). Depois ela volta do Calvário para Jerusalém para comprar e preparar certos perfumes, a fim de poder preparar o corpo de Jesus como era costume funerário, quando o dia de Sábado tivesse passado. Ela passou todo o dia de Sábado na cidade - e no dia seguinte, de manhã muito cedo "quando ainda estava escuro", indo ao sepulcro, achou-o vazio, e recebeu de um anjo a notícia de que Jesus Nazareno tinha ressuscitado e devia informar disso aos apóstolos. (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-5,10,11; Lucas 24:1-10; João 20:1,2; compare com João 20:11-18). Existe um desejo olfativo, visual, tátil, sonoro muito forte nesse personagem; Ela foi a primeira testemunha ocular de Jesus Ressuscitado. Talvez por isso se explique muitas especulações sobre sua história, escritores como: Henry Lincoln, Michael Baigent e Richard Leigh, autores do livro que em português se intitulou O Sangue de Cristo e o Santo Graal (1982), e Dan Brown no romance O Código da Vinci (2003), estão aí para instigarem a sexualidade de Maria e Jesus.A Maria Betânia - Pietá: (irmã de Marta e de Lázaro, o homem que Jesus ressuscitou) Essa Maria possui uma das cenas mais sensuais da Bíblia; o momento em que ela pega o frasco de alabastro que continha um caríssimo ungüento de nardo, ungiu com ele os pés de Jesus e os enxugou com os próprios cabelos. A unção do corpo com perfumes raros é muito simbólico para os povos antigos, tem uma força de imortalidade. Sabe-se que houve na casa dessa Maria a ressurreição de Lázaro (morto já alguns dias), e tem uma das raras cenas registrada em que Cristo chora. Fertilidade, prazer da carne e dor talvez sejam caminhos quase inevitáveis para humanidade há alguns que tentam evitar, mas é bem verdade que nos formamos dentro dessa complexidade. Refazer e reconstruir caminhos passa pela experiência dessa complexidade com a carne (corpo). Deixa-se uma obra, Bob e Brenda, do americano William Crozier, uma escultura quase em tamanho natural, do corpo de homem e do corpo da mulher. Um representando a força horizontal e outro representando a força vertical, a sábia combinação e interação que afugenta todos os diabos (aquilo que divide) do corpo. Ambos se vêem, podem desejar-se ou não, podem fecundar-se ou não. Mas ambos sabem que possuem a força da vida.

por ilton ribeiro

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