domingo, 16 de setembro de 2007

tributo ao michê

ATARANTADOS PELOS AUTOMÓVEIS, seus olhares são varados pelo néon, enquanto degustam cuidadosos cinismos e a pose debochada. Os arrobos de uma juventude bela, mas desvairada. Os balcões molhados pelo vácuo. As mariconas fustigam seus corpos com olhares sórdidos. Esses olhares serão culto durante a noite.Estes mesmos olhares da madrugada, olhados de forma sobrepostas... Avenida São João com Ipiranga; Avenida São Luiz, Largo do Arouche e seus jovens másculos de culturas frenéticas espalhando a beleza e o sexo e o delírio...Enquanto isso, sobre a frondosa (...) Praça da República, o poder acaricia e intumesce caralhos lânguidos como também aprende as poses sensuais dos gestos (...) com que deverá ornar seu corpo musculoso e vestido.Ao seu lado, seu companheiro de aventura, igualmente belo, igualmente louco, negocia sua boca de estátua grega com pederastas (...) beberam vários conhaques para encarar. Seus estômagos acostumados pela média preferem à corrosão e é exatamente fodidos que São Paulo gosta deles. E eles vêem o poder levemente maquiado. E eles vêem os policiais querendo tolir suas atividades. Eles vêem as bichas loucas evoluírem num frenesi, afetados por anfetaminas e maconha; elas exorcizam a noite com suas incríveis histórias de viagens a Paris, passeios inexistentes pela (...), querendo esnobar os rapazes e deixando a situação difícil, porque as mariconas odeiam, porque elas comprometem a noite. Vão pensar que viado é tudo igual e por isso que elas não são bem-vindas.Durante o início da noite há uma sex tarife. Logicamente que as primeiras serão as mais caras; as cobranças do meio serão para aqueles fregueses certos, pois são bem remunerados. Mas a madrugadas, quando nada acontece, o michê embarca no primeiro carro que pára ao seu lado. Logo mais em algum lugar ejaculará catarro e receberá um tributo por isso. Final da noite o michê e seu companheiro adentrarão no mesmo ônibus que vieram na noite anterior. Cansados, famintos e mortos de sono. Na alma, a certeza de que algo fora destroçado na sua virilidade. Nos corpos a marca do sexo. Mas no cotidiano, no presente, no momento, apesar da desdita, eles têm a certeza de que apesar de tudo, terão que voltar ao mesmo lugar na noite seguinte.
por eduardo peniche

Nenhum comentário: